sábado, 28 de dezembro de 2013

primeiro livro - 22 de maio

22 de maio

 É comum dizer-se que a vida do homem não passa de um sonho, e esse sentimento me acompanha sempre. Quando observo os estreitos limites em que se acham encerradas as faculdades ativas e intelectuais do homem; quando vejo que o objetivo de todos os nossos esforços é prover necessidades que por si mesmas não têm outro fim senão prolongar nossa miserável existência, e que por consequência toda a nossa tranquilidade, em certos pontos de nossas buscas, não passa de uma resignação sonhadora, que gozamos pintando de figuras variadas e perspectivas luminosas as quatro paredes que nos fazem prisioneiros: tudo isso, meu amigo, me reduz ao silêncio. Olho para dentro de mim mesmo e vejo um mundo; porém um mundo muito mais de pressentimentos e vagos desejos do que de realidades e forças vivas. Então tudo me flutua ante os olhos, e continuo sorrindo e sonhando em minha jornada através do mundo.

 As crianças não sabem o motivo de seus desejos, apenas querem as coisas: eis um ponto acerca do qual estão de acordo todos os pedagogos e preceptores; mas também os adultos, como as crianças, caminham pela terra com um andar indeciso e, como elas - não sabem de onde vêm nem para onde vão-, agem tão pouco visando um fim verdadeiro; e são, do mesmo modo, governados com biscoitos, doces e açoites. Trata-se de algo em que ninguém acredita, mas, para mim, é a verdade mais palpável e evidente.

 Confesso-lhe com tranquilidade (pois sei o que você me responderia) que são mais felizes aqueles que, como as crianças, vivem despreocupadamente o cotidiano, levam suas bonecas para passear, vestem-nas, despem-nas; rondam, com um respeito enorme, o armário onde a mamãe trancou os doces e, quando conseguem a guloseima cobiçada, engolem-na avidamente, gritando: "Mais!...". São criaturas felizes. E também são felizes os que dão nomes pomposos às suas ocupações frívolas, ou mesmo às suas paixões, e consideram-nas como obras de gigantes, empreendidas para a salvação e a prosperidade da sociedade humana. Bem-aventurados os que podem viver assim! Mas quem reconhece com humildade para onde as coisas se conduzem observa também como todo burguês feliz sabe transformar seu pequeno jardim em um paraíso; e vê com que ardor também o miserável prossegue em sua rota, suportando o peso do fardo, pois todos, em suma, aspiram igualmente a desfrutar, um minuto a mais, a luz do sol - quem observa tudo isso resta tranquilo e também feliz, porque compartilha a existência humana. E, por mais limitados os seus poderes, traz sempre no coração o doce sentimento da liberdade e sabe que poderá deixar este cárcere quando quiser.

Goethe
no Primeiro Livro em Os sofrimentos do jovem Werther 
Tradução de Leonardo César Lack

sábado, 21 de dezembro de 2013

A poesia é a mãe das artes
& das manhas em geral: alô poetas
poesia no país do carnaval.

O poeta é a mãe das artes
e das manhas em geral. Alô poesia:
os poetas do país, no carnaval,
têm a palavra calada
pelas doenças do mal.

Mal, muito mal: a paisagem, o verde
da manhã, rever-te sob o sol de tropical
reverso da mortalha (o mal), notícias
de jornal - vermelho e negro - naturalismo
eu cismo

Torquato Neto

Trechos de Mamãe, coragem

Eu tenho um beijo preso na garganta
Eu tenho jeito de quem não se espanta
(Braço de ouro vale dez milhões)
Eu tenho corações fora do peito

Mamãe não chore, não tem jeito
Pegue uns panos pra lavar leia um romance
Leia Elzira, a morta-virgem,
O grande industrial

Eu por aqui vou indo muito bem
De vez em quando brinco o carnaval
E vou vivendo assim, felicidade
Na cidade que eu plantei pra mim
E que não tem mais fim
Não tem mais fim
Não tem mais fim

Torquato Neto
no poema Mamãe, coragem
gravado por Nara Leão

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

O que não sei fazer desmancho em frases.

Eu fiz o nada aparecer.

(Represente que o homem é um poço escuro.
Aqui de cima não se vê nada.
Mas quando se chega ao fundo do poço já se pode ver o nada.)

Perder o nada é um empobrecimento.

Manoel de Barros
no Livro sobre nada

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Do amor contente e muito descontente - 16

Não é verdade.
Nem tudo foi terra e sexo
         No meu verso.
         Se poeta sou
É porque sei também
Falar muito de amor
         Suavemente.
E sei como ninguém
          Afagar

A cabeça de um cão
Na madrugada.

Hilda Hilst
em Exercícios

Cinco Elegias - quarta

Não te espantes da vontade
Do poeta
Em transmudar-se:
Quero e queria ser boi
Ser flor
Ser paisagem.
Sentir a brisa da tarde
Olhar os céus, ver às tardes
Meus irmãos, bezerros, hastes,
Amar o verde, pascer,
Nascer
Junto à terra
(À noite amar as estrelas)
Ter olhos claros, ausentes,
Sem o saber ser contente
De ser boi, ser flor, paisagem.
Não te espantes. E reserva
Teu sorriso para ops homens
Que a todo custo hão de ser
Oradores, eruditos,
Doutos doutores
Fronte e cerne endurecido.
Quero e queria ser boi
Antes de querer ser flor.
E na planície, no monte,
Movendo com igual compasso
A carcaça e os leves cascos
(Olhando além do horizonte)
Um pensamento eu teria:
Mais vale a mente vazia.

E sendo boi, sou ternura.
Aunque pueda parecer
Que del poeta
Es locura.

Hilda Hilst
em Exercícios

Do amor contente e muito descontente - 6

Tudo é triste. Triste como nós
Vivos ausentes, a cada dia esperando
      O imutável presente.
Tudo é triste. Triste como eu
       Antiga de carícias
       De olhos e lamentos
       Lenta no andar, lenta
                  Irmã
       De algum canto de ave
       De silêncio na nave, irmã.

       Vamos partir, amor.
       Subir e descer rios
       Caminhar nos caminhos
                  Beijar
       Amar como feras
       Rir quando vier a tarde.
       E no cansaço

Deitaremos imensos
Na planície vazia de memórias.

Hilda Hilst
em Exercícios

Do amor contente e muito descontente - 10

Tenho pedido a todos que descansem
De tudo o que cansa e mortifica:
O amor, a fome, o átomo, o câncer.
Tudo vem a tempo no seu tempo.
Tenho pedido às crianças mais sossego
Menos risos e muita compreensão para o brinquedo.
O navio não é trem, o gato não é guizo.

Quero sentar-me e ler nesta noite calada.
A primeira vez que li Franz Kafka
Eu era uma menina. (A família chorava).
Quero sentar-me e ler mas o amigo me diz:
O mundo não comporta tanta gente infeliz.

Ah, como cansa querer ser marginal
                   Todos os dias.
Descansem anjos meus. Tudo vem a tempo
No seu tempo. Também é bom ser simples.
É bom ter nada. Dormir sem desejar
Não ser poeta. Ser mãe. Se não puder ser pai.

Tenho pedido a todos que descansem
De tudo o que cansa e mortifica.
                Mas o homem

                Não cansa.

Hilda Hilst
no livro Exercícios

Do amor contente e muito descontente - I

Iniciei mil vezes o diálogo. Não há jeito.
Tenho me fatigado tanto todos os dias
Vestindo, despindo e arrastando amor
Infância,
Sóis e sombras.
Vou dizer coisas terríveis à gente que passa.
Dizer que não é mais possível comunicar-me.
(Em todos os lugares o mundo se comprime.)
Não há mais espaço para sorrir ou bocejar de tédio.
As casas estão cheias. As mulheres parindo sem cessar,
Os homens amando sem amar, ah, triste amor desperdiçado
Desesperançado amor... Serei eu só
A revelar o escuro das janelas, eu só
Adivinhando a lágrima em pupilas azuis
Morrendo a cada instante, me perdendo?

Iniciei mil vezes o diálogo. Não há jeito.
Preparo-me e aceito-me
Carne e pensamento desfeitos. Intentemos,
Meu pai, o poema desigual e torturado.
E abracemo-nos depois em silêncio. Em segredo.

Hilda Hilst
no livro Exercícios

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Odes maiores ao pai - V

Sobrevivi à morte sucessiva das coisas do teu quarto.
Vi pela primeira vez a inútil simetria dos tapetes e o azul diluído
Azul-branco das paredes. E uma fissura de um verde anoitecido
Na moldura de prata. E nela o meu retrato adolescente e gasto.
E as gavetas fechadas. Dentro delas aquele todo silencioso e raro
Como um barco de asas. Que fome de tocar-te nos papéis antigos!
Que amor se fez em mim, multiforme e calado!
Que faces infinitas eu amei para guardar teu rosto primitivo!

Desce da noite um torpor singular, água sob o casco de um velho veleiro
Calcinado. Em mim, o grane limbo de lamento, de dor, e o medo de esquecer-te
De soltar estas âncoras e depois florir sem ao menos guardar tua ressonância.
Abraça-me. Um quase nada de luz pousou na tua mesa
E expandiu-se na cor, como um pequeno prisma.

Hilda Hilst
em Exercícios

Odes maiores ao pai - I

Uns ventos te guardaram. Outros guardam-me a mim. E aparentemente separados
Guardamo-nos os dois, enquanto os homens no tempo se devoram.
Será lícito guardarmo-nos assim?
Pai, este é um tempo de espera. Ouço que é preciso esperar
Uns nítidos dragões de primavera, mas à minha porta eles viveram sempre,
Claros gigantes, líquida semente no meu pouco de terra.

Este é um tempo de silêncio. Tocam-te apenas. E no gesto
Te empobrecem de afeto. No gesto te consomem.

Tocaram-te nas tardes, assim como tocaste
Adolescente, a superfície parada de umas águas? Tens ainda nas mãos
A pequena raiz, a fibra delicada que a si se construía em solidão?
Pai, assim somos tocados sempre.
Este é um tempo de cegueira. Os homens não se veem. Sob as vestes
Um suor invisível toma corpo e na morte nosso corpo de medo
É que floresce.

Mortos nos vemos. Mortos amamos. E de olhos fechados
Uns espaços de luz rompem a treva. Meu pai: Este é um tempo de treva.

Hilda Hilst
em Exercícios

Passeio - 20

De um exílio passado entre a montanha e a ilha
Vendo o não ser da rocha e a extensão da praia.
De um esperar contínuo de navios e quilhas
Revendo a morte e o nascimento de umas vagas.
De assim tocar as coisas minuciosa e lenta
E nem mesmo na dor chegar a compreendê-las.
De saber o cavalo na montanha. E reclusa
Traduzir a dimensão aérea do seu flanco.
De amar como quem morre o que se fez poeta
E entender tão pouco seu corpo sob a pedra.
E de ter visto um dia uma criança velha
Cantando uma canção, desesperando,
É que não sei de mim. Corpo de terra.

Hilda Hilst
no livro Exercícios

Memória - 7

Vê, Ricardo, se falo tanto do ser feito de terra
É porque o resto é paisagem.
Olhei minha própria carne certa noite. E essa dor
Secular que a recobria. Tu passeavas teus olhos
Revivescendo a ilha, e meus braços castigados
Do gesto de alcançar, buscavam esse tempo de colher.
Mas eu não fui pastora. Há na terra que sou largas artérias
Mas um vento de assomos, um deslumbramento me tomava
E o gesto de plantar cristalizava-se no meu mais puro olhar.

Olhava: A figueira, a pedra umedecida da cisterna
O sol sobre o rosto das mulheres, um rosto semelhante
Àquele barro esquecido de rios. E ubíqua, viajava

Não que ali não deixasse afetos, pássaros da tarde
Cães (viajores de um dia) e presenças quando a noite
De augúrios começava. Uma parte de mim, essa de carne
E ausência, talvez não emigrasse. Os ritos, os de sempre.
Mas o olhar não era o mesmo: Pousava sobre as coisas
Mas nas coisas que via não estava.

Fui vista caminhando nos pastos. Nas vides. Muitos disseram
Que o meu corpo estendeu-se sobre a terra e de tal forma
Ficamos confundidas, que as aves descansaram de seu vôo
Na minha fronte de pedra. Adormeci nas paragens de sal
Cantei minha canção no pátio dos mosteiros, atravessei as pontes
Lavei-me nas águas de infinitas nascentes. Mas a boca,
A minha boca fechou-se procurando uma única fonte.

Hilda Hilst
no livro Exercícios

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

"Eu sou é eu mesmo. Diverjo de todo o mundo... Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa."

Guimarães Rosa
em Grande Sertão: Veredas
"Viver é muito perigoso... Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar. Esses homens: Todos puxavam o mundo para si, para o conc(s)ertar consertado. Mas cada um só vê e entende as coisas dum seu modo."

Guimarães Rosa
em Grande Sertão: Veredas

meu mundo

conforto alucinante,
tranquilidade na clareira do caos
o ponteiro, ele rodou mais rápido
no mesmo relógio de ontem
o que as horas guardam
nos espaços do contratempo?
a mulher?

(...)

o desejo é um tempo parado
é quando se trocam as datas
dos bichos e das flores
é quando aumenta a rachadura
da velha parede
é quando se vira
a folha da história
é quando se pinta
um fio branco
na cabeleira preta
é quando se endurece
o rastro do sorriso
no canto dos olhos

eu sei que a viagem é longa
a voz vai e vem
você tá aí?

vontade de abraçar o infinito

Otto e Lirinha
na canção Meu Mundo

hora das estrelas

O silêncio cilíndrico da noite
sobre o pentagrama
do infinito.

Saio nu para a rua
maduro de versos
perdidos.
A treva, perfurada
pelo canto do grilo,
tem esse fogo-fátuo,
morto,
do som.
Essa luz musical
que percebe
o espírito.

Os esqueletos de mil mariposas
dormem em meu recinto.

Há uma juventude de auras loucas
sobre o rio.

Federico García Lorca

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Sentimento do mundo

Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer

esse amanhecer
mais noite que a noite.

Carlos Drummond de Andrade

Não se mate

Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.

Entretanto, você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.

Carlos Drummond de Andrade

Consolo na praia

Vamos, não chores
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te - de vez - nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.

Carlos Drummond de Andrade

noite carioca

Diálogo de surdos, não: amistoso no frio. Atravanco na contramão. Suspiros no contrafluxo. Te apresento a mulher mais discreta do mundo: essa que não tem nenhum segredo.

Ana Cristina Cesar
em A teus pés

três cartas a navarro

Navarro,
A animalidade dos signos me inquieta. Versos a galope descem alamedas a pisotear-me a alma ou batem asas entre pombos pardos da noite. Enchem o banheiro, perturbam os inquilinos, escapam pelas frestas em forma de lombrigas. Ó melancólica impertinência das metáforas! Tenho pena de mim mesmo, pena torpe dos animais aflitos. Ao animá-los me dobro sobre a pena e choro. Meus ouvidos vomitam ritmos, lágrimas, obedeço. Tenho medo de dizer que a forma das letras oculta amor, desejo, e a tua esquiva pessoa ao meu redor. Na próxima tentativa (e cinco espinhos são) não soltarei mais que balbucios.

Ana Cristina Cesar
em Antigos e soltos: poemas e prosas da pasta rosa

domingo, 24 de novembro de 2013

Envelhecer

Antes, todos os caminhos iam.
Agora todos os caminhos vêm.
A casa é acolhedora, os livros poucos.
E eu mesmo preparo o chá para os fantasmas.

Mário Quintana
no livro Poesias

Arte de Fumar

 Desconfia dos que não fumam: esses não têm vida interior, não têm sentimentos. O cigarro é uma maneira disfarçada de suspirar...

Mário Quintana
no livro Poesias

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

(...) Mais uma vez, nas suas hesitações confusas, o que a tranquilizou foi o que tantas vezes lhe servia de sereno apoio: é que tudo o que existia, existia com uma precisão absoluta e no fundo o que ela terminasse por fazer ou não fazer não escaparia dessa precisão; aquilo que fosse do tamanho da cabeça de um alfinete, não transbordava nenhuma fração de milímetro além do tamanho de uma cabeça de alfinete: tudo o que existia era de uma grande perfeição. Só que a maioria do que existia com tal perfeição era, tecnicamente, invisível: a verdade, clara e exata em si própria, já vinha vaga e quase insensível à mulher.

Clarice Lispector
em Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres

o velho leon e natália em coyoacán

desta vez não vai ter neve como em petrogrado aquele dia
o céu vai estar limpo e o sol brilhando
você dormindo e eu sonhando

nem casacos nem cossacos como em petrogrado aquele dia
apenas você nua e eu como nasci
eu dormindo e você sonhando

não vai mais ter multidões gritando como em petrogrado aquele dia
silêncio nós dois murmúrios azuis
eu e você dormindo e sonhando

nunca mais vai ter um dia como em petrogrado aquele dia
nada como um dia indo atrás do outro vindo
você e eu sonhando e dormindo

Paulo Leminski
em Polonaises

pareça e desapareça

  Parece que foi ontem.
Tudo parecia alguma coisa.
  O dia parecia noite.
E o vinho parecia rosas.
  Até parece mentira,
tudo parecia alguma coisa.
  O tempo parecia pouco,
e a gente se parecia muito.
  A dor, sobretudo,
parecia prazer.
  Parecer era tudo
que as coisas sabiam fazer.
  O próximo, eu mesmo.
Tão fácil ser semelhante,
  quando eu tinha um espelho
pra me servir de exemplo.
  Mas vice-versa e vide a vida.
Nada se parece com nada.
  A fita não coincide
Com a tragédia encenada.
  Parece que foi ontem.
O resto, as próprias coisas contem.

Paulo Leminski
em Distraídos venceremos

volta em aberto

Ambígua volta
em torno da ambígua ida,
quantas ambiguidades
se pode cometer na vida?
Quem parte leva um jeito
de quem traz a alma torta.
Quem bate mais na porta?
Quem parte ou quem torna?

Paulo Leminski
em Distraídos venceremos

bem no fundo

no fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela - silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas

Paulo Leminski
em Distraídos venceremos

domingo, 17 de novembro de 2013

Quem nasce com coração?
Coração tem que ser feito.
Já tenho uma porção
Me infernando o peito.

Com isso ninguém nasça.
Coração é coisa rara,
Coisa que a gente acha
E é melhor encher a cara.

Paulo Leminski
em Caprichos & Relaxos

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

"(...) não é mesmo com bons sentimentos que se faz literatura: a vida também não. Mas há algo que não é bom sentimento. É uma delicadeza de vida que inclusive exige a maior coragem para aceitá-la."

Clarice Lispector
em Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres

Parada Cardíaca

essa minha secura
essa falta de sentimento
não tem ninguém que segure
vem de dentro

vem da zona escura
donde vem o que sinto
sinto muito
sentir é muito lento

Paulo Leminski
muito romântico
meu ponto pacífico
fica no atlântico

Paulo Leminski

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

(...) E era bom. "Não entender" era tão vasto que ultrapassava qualquer entender - entender era sempre limitado. Mas não-entender não tinha fronteiras e levava ao infinito, ao Deus. Não era um não-entender como um simples de espírito. O bom era ter uma inteligência e não entender. Era uma benção estranha como a de ter loucura sem ser doida. Era um desinteresse manso em relação às coisas ditas do intelecto, uma doçura de estupidez.
 Mas de vez em quando vinha a inquietação insuportável: queria entender o bastante para pelo menos ter mais consciência daquilo que ela não entendia. Embora no fundo não quisesse compreender. Sabia que aquilo era impossível e todas as vezes que pensara que se compreendera era por ter compreendido errado. Compreender era sempre um erro - preferia a largueza tão ampla e livre e sem erros que era não-entender. Era ruim, mas pelo menos se sabia que se estava em plena condição humana.
 No entanto às vezes adivinhava. Eram manchas cósmicas que substituíam entender.

Clarice Lispector
em Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

castanho-claro

um olhar castanho-claro

esse estúpido, vazio e maravilhoso
olhar castanho-claro.

darei um jeito
nele.

você não precisa mais
me enganar
com seus truques
de Cleópatra
de cinema

já se deu conta
de que se eu fosse uma calculadora
eu poderia entrar em pane
registrando
as infinitas vezes que você usou
esse olhar castanho-claro?

não que não seja o que há de melhor
esse seu olhar castanho-claro.

algum dia um filho da puta louco
irá matá-la

e então você gritará meu nome
e finalmente entenderá
o que já devia ter entendido

há muito
tempo.

Charles Bukowski
em O amor é um cão dos diabos

The practice of magical evocation

the female is fertile, and discipline
(contra naturam) only
             confuses her
             - Gary Snyder

i am a woman and my poems
are woman's: easy to say
this.       The female is ductile
and
             (stroke after stroke)
Built for masochistic
Calm.                The deadened nerve
is part of it:
awakened sex, dead retina
fish eyes;                       at hair's root
minimal feeling

and pelvic architecture functional
assailed inside & out
(bring forth)       the cunt gets wide
and relatively sloppy
bring forth men children only
                                  female
                                  is
                                  ductile

woman, a veil thru which the fingering Will
twice torn
twice torn
                         inside & out
the flow
what rhythm add to stillness
what applause?

Diane di Prima

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Escrever nem uma coisa
Nem outra – 
A fim de dizer todas 
Ou, pelo menos, nenhumas.

Assim,
Ao poeta faz bem
Desexplicar 
Tanto quanto escurecer acende os vaga-lumes.

Manoel de Barros
em O guardador de águas
O poema é antes de tudo um inutensílio.

Hora de iniciar algum
convém se vestir roupa de trapo.

Há quem se jogue debaixo de carro
nos primeiros instantes.

Faz bem uma janela aberta
uma veia aberta.

Pra mim é uma coisa que serve de nada o poema
enquanto vida houver.

Ninguém é pai de um poema sem morrer.

Manoel de Barros
em Arranjos para assobio

Comportamento

Não quero saber como as coisas se comportam.
Quero inventar comportamento para as coisas.
Li uma vez que a tarefa mais lídima da poesia é a
de equivocar o sentido das palavras
Não havendo nenhum descomportamento nisso
senão que alguma experiência linguística.
Noto que às vezes sou desvirtuado a pássaros, que
sou desvirtuado em árvores, que sou desvirtuado
para pedras.
Mas que essa mudança de comportamento gental
para animal vegetal ou pedral
É apenas um descomportamento semântico.
Se eu digo que grota é uma palavra apropriada para
ventar nas pedras,
Apenas faço o desvio da finalidade da grota que
não é a de ventar nas pedras.
Se digo que os passarinhos faziam paisagens na
minha infância,
É apenas um desvio das tarefas dos passarinhos que
não é a de fazer paisagens.
Mas isso é apenas um descomportamento linguístico que
não ofende a natureza dos passarinhos nem das grotas.
Mudo apenas os verbos e às vezes nem mudo.
Mudo os substantivos e às vezes nem mudo.
Se digo ainda que é mais feliz quem descobre o que não
presta do que quem descobre ouro 
Penso que ainda assim não serei atingido pela bobagem.
Apenas eu não tenho polimentos de ancião.

Manoel de Barros
em Ensaios fotográficos
A maior riqueza do homem é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou eu não aceito.
Não aguento ser apenas um sujeito que abre
portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que
compra pão às 6 horas da tarde, que vai lá fora,
que aponta lápis, que vê a uva etc. etc.
Perdoai.
Mas eu preciso ser Outros.
Eu preciso renovar o homem usando borboletas.

Manoel de Barros
em Retrato de artista quando coisa

Hija del viento

Han venido.
Invaden la sangre.
Huelen a plumas,
a carencia,
a llanto.
Pero tú alimentas al miedo
y a la soledad
como a dos animales pequeños
perdidos en el desierto.

Han venido
a incendiar la edad del sueño.
Un adiós es tu vida.
Pero tú te abrazas
como la serpiente loca de movimiento
que sólo se halla a sí misma
porque no hay nadie.

Tú lloras debajo de tu llanto,
tú abres el cofre de tus deseos
y eres más rica que la noche.

Pero hace tanta soledad
que las palabras se suicidan

Alejandra Pizarnik
em Las Aventuras Perdidas

Signos

Todo hace el amor con el silencio.

Me habían prometido un silencio como un fuego, una casa de silencio.

De pronto el templo es un circo y la luz un tambor.

Alejandra Pizarnik

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O Açúcar

O branco açúcar que adoçará meu café
nesta manhã de Ipanema
não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.

Vejo-o puro
e afável ao paladar
como beijo de moça, água
na pele, flor
que se dissolve na boca. Mas este açúcar
não foi feito por mim.

Este açúcar veio
da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira,
dono da mercearia.
Este açúcar veio
de uma usina de açúcar em Pernambuco
ou no Estado do Rio
e tampouco o fez o dono da usina.

Este açúcar era cana
e veio dos canaviais extensos
que não nascem por acaso
no regaço do vale.

Em lugares distantes, onde não há hospital
nem escola,
homens que não sabem ler e morrem de fome
aos 27 anos
plantaram e colheram a cana
que viraria açúcar.

Em usinas escuras,
homens de vida amarga
e dura
produziram este açúcar
branco e puro
com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.

Ferreira Gullar
em Dentro da noite veloz

Poema Brasileiro

No Piauí de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade

No Piauí
de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade

No Piauí
de cada 100 crianças
que nascem
78 morrem
antes
de completar
8 anos de idade

antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade

Ferreira Gullar
em Dentro da noite veloz

Pela Rua

Sem qualquer esperança
detenho-me diante de uma vitrina de bolsas
na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, domingo,
enquanto o crepúsculo se desata sobre o bairro.

Sem qualquer esperança
te espero.
Na multidão que vai e vem
entra e sai dos bares e cinemas
surge teu rosto e some
num vislumbre
                      e o coração dispara.
Te vejo no restaurante
na fila do cinema, de azul
diriges um automóvel, a pé
cruzas a rua
                  miragem
que finalmente se desintegra com a tarde acima dos
                                                                edifícios
e se esvai nas nuvens.

A cidade é grande
tem quatro milhões de habitantes e tu és uma só.
Em algum lugar estás a esta hora, parada ou andando,
talvez na rua ao lado, talvez na praia
talvez converses num bar distante
ou no terraço desse edifício em frente,
talvez estejas vindo ao meu encontro, sem o saberes,
misturada às pessoas que vejo ao longo da Avenida.
Mas que esperança! Tenho
uma chance em quatro milhões.
Ah, se ao menos fosses mil
disseminada pela cidade.

A noite se ergue comercial
nas constelações da Avenida.
Sem qualquer esperança
continuo
e meu coração vai repetindo teu nome
abafado pelo barulho dos motores
       solto ao fumo da gasolina queimada.

Ferreira Gullar
em Dentro da noite veloz

Uma Definição

amor é uma luz à
noite atravessando o nevoeiro

amor é uma tampinha de cerveja
pisada no caminho
do banheiro

amor é a chave perdida da sua porta
quando você está bêbado

amor é o que acontece
uma vez a cada dez anos

amor é um gato esmagado

amor é o velho jornaleiro na
esquina que
desistiu

amor é o que você acha que a outra
pessoa destruiu

amor é o que desapareceu junto
com a era dos navios encouraçados

amor é o telefone tocando,
a mesma voz ou uma outra
voz mas nunca a voz
correta

amor é traição
amor é o incêndio dos
sem-teto num beco

amor é aço
amor é a barata
amor é uma caixa de correio

amor é a chuva sobre o telhado
de um velho hotel
em Los Angeles

amor é o seu pai num caixão
(aquele que te odiava)

amor é um cavalo com a perna
quebrada
tentando se levantar
enquanto 45.000 pessoas
observam

amor é o jeito que nós fervemos
como a lagosta

amor é tudo que nós dissemos
que não era

amor é a pulga que você não conseguema rebek
encontrar

e o amor é um mosquito

amor são 50 lançadores de granada

amor é um pinico
vazio

amor é uma rebelião em San Quentin
amor é um hospício

amor é um burro parado numa
rua de moscas

amor é um banco de bar vazio

amor é um filme do Hindenburg
se retorcendo
um momento que ainda grita

amor é Dostoiévski na
roleta

amor é o que se arrasta pelo
chão

amor é a sua mulher dançando
colada com um estranho

amor é uma senhora
roubando um pedaço de
pão

e o amor é uma palavra usada
muitas vezes e
muitas vezes
cedo demais.

Charles Bukowski
em Amor é tudo que nós dissemos que não era
mesmo
na idade
de virar
eu mesmo

ainda
confundo
felicidade
com este
nervosismo

Paulo Leminski
Depois de hoje
a vida não vai mais ser a mesma
a menos que eu insista em me enganar

aliás
depois de ontem
também foi assim
anteontem
antes
amanhã.

Paulo Leminski
em Quarenta clics em Curitiba
"Tem horas em que penso que a gente carecia, de repente, de acordar de alguma espécie de encanto. As pessoas, e as coisas, não são de verdade: E de que é que, a miúde, a gente adverte incertas saudades? Será que, nós todos, as nossas almas já vendemos? Bobéia, minha. E como é que havia de ser possível? Hem?!"

João Guimarães Rosa
em Grande Sertão: Veredas
"Qual é o caminho certo da gente? Nem para a frente nem para trás: só para cima. Ou parar curto quieto. Feito os bichos fazem. Os bichos estão só é muito esperando? Mas, quem é que sabe como? Viver... O senhor já sabe: viver é etcétera."

João Guimarães Rosa
em Grande Sertão: Veredas
"Só que coração meu podia mais. O corpo não translada, mas muito sabe, adivinha se não entende. Perto de muita água, tudo é feliz."

João Guimarães Rosa
em Grande Sertão: Veredas
"(...) o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão."

João Guimarães Rosa
em Grande Sertão: Veredas

A Queimada

Queime tudo o que puder:
as cartas de amor
as contas telefônicas
o rol de roupas sujas
as escrituras e certidões
as inconfidências dos confrades ressentidos
a confissão interrompida
o poema erótico que ratifica a impotência
e anuncia a arteriosclerose
os recortes antigos e as fotografias amareladas

Não deixe aos herdeiros esfaimados
nenhuma herança de papel.
Seja como os lobos: more num covil
e só mostre à canalha das ruas os seus dentes afiados.
Viva e morra fechado como um caracol.
Diga sempre não à escoria eletrônica.

Destrua os poemas inacabados, os rascunhos,
as variantes e os fragmentos
que provocam o orgasmo tardio dos filólogos e escoliastas.
Não deixe aos catadores de lixo literário nenhuma migalha.
Não confie a ninguém o seu segredo.
A verdade não pode ser dita.

Lêdo Ivo
No coração, no olhar

Quando se tocarem
Pela primeira vez
Aqueles que se amam

Eu estarei

Nas grandes luas
Nas tardes
Nas pequeninas canções
Nos livros

Eu e minha viva morte
Estaremos ali
Pela primeira vez.

Dirão:
Um poeta e sua morte
Estão vivos e unidos
No mundo dos homens.

Nas madrugadas
Pela primeira vez

Em amor

Tocada.

Hilda Hilst
Passará
Tem passado
Passa com a sua fina faca.

Tem nome de ninguém.
Não faz ruído. Não fala.
Mas passa com a sua fina faca.

Fecha feridas, é ungüento.
Mas pode abrir a tua mágoa
Com a sua fina faca.

Estanca ventura e voz
Silêncio e desventura.
Imóvel
Garrote
Algoz

No corpo da tua água passará
Tem passado
Passa com a sua fina faca.

Hilda Hilst

Anedota Búlgara

Era uma vez um czar naturalista
que caçava homens.
Quando lhe disseram que também se caçam borboletas e andorinhas,
ficou muito espantado
e achou uma barbaridade.

Carlos Drummond de Andrade
em Alguma Poesia

Mancha

Tenho 16 anos
Sou viúva
De família azul
De cabelos esvoaçantes
(E nada rebeldes)
Sou genial sob todos os pontos de vista,
Inclusive de perfil
A poesia é uma mentira, mora.
Pelo menos me tira da verdade relativa
E ativa a circulação consanguinea
A Pedra Filosofal é um tanto ou quanto besta
Plutarcoplatãopauto
Plutãoturcotãopauto
Platocotãopuloplau

Desisto: tenho 16 anos.
E perdi-me agora rabiscando-te.

Ana Cristina Cesar
em Inéditos e Dispersos

Tão bem

Me escondo no porão
para melhor aproveitar o dia
e seu plantel de cigarras.
Entrei aqui para rezar,
agradecer a Deus este conforto gigante.
Meu corpo velho descansa regalado,
tenho sono e posso dormir,
Tendo comido e bebido sem pagar.
O dia lá fora é quente,
a água na bilha é fresca,
acredito que sugestionamos elétrons.
Eu só quero saber do microcosmo,
O de tanta realidade que nem há.
Na partícula visível da poeira
Em onda invisível dança a luz.
Ao cheiro do café minhas narinas vibram,
Alguém vai me chamar.
Responderei amorosa,
Refeita de sono bom.
Fora que alguém me ama,
Eu nada sei de mim.

Adélia Prado
em A duração do dia

A oferenda

"Eu queria trazer-te uns versos muito lindos...
Trago-te estas mãos vazias
Que vão tomando a forma do teu seio."

Mário Quintana
em Esconderijos do tempo