“Íntimo” é o superlativo latino de “interior”. Um superlativo é uma forma que manifesta a potência máxima de algo, e “interior”, proveniente do latim 'interior', significa “mais interior de…”. O íntimo é aquilo que é mais interior, mais profundo, e, portanto, mais secreto, mais reservado, aquilo que me pertence mais profundamente, de tal modo que pode ser meu sem que eu mesmo o saiba, sem que possa realmente explicá-lo.
Quando digo “te amo”, digo aquilo que há de mais íntimo para mim e para o outro, porque o envolvo em sua intimidade. Por isso, o tema é muito embaraçante, difícil de ser abordado. É até mesmo necessário perguntar-se se é possível falar dele, e a resposta não é previsível. Estou certo de que vocês ficam incomodados com a ideia de ver uma conferência sobre o amor. Há muitas formas de incômodo: talvez vocês tenham se perguntado, “mas como é possível falar do amor?” […]
Amo-o pouco, amo-o muito: já se sabe que isto não é amor. Se alguém lhe pergunta “me amas?” e você responde “sim, te amo muito”, então já está provocando uma desilusão. Com isso quero dizer que “te amo” é absoluto. Assim, temos que dizer “te amo” e ponto final. Não podemos quantificar. […]
***
Jean-Luc Nancy, Je t’aime, beaucoup, passionément… Paris: Bayard, 2008, pp. 16-17/23, tradução Davi Pessoa. Conferência dada por Nancy em Montreuil, em 2 de fevereiro de 2008.
Nenhum comentário:
Postar um comentário