te escrevo do ônibus a raiva
dando lugar a um negócio
ainda sem nome comprei
cigarro em vez de água
com os zlótis que você me deu
hoje de manhã na cozinha
sem me olhar nos olhos eis
a lista das coisas que você me deixa:
aumento das chances de câncer
de pulmão e algum dinheiro
parte dos euros que ainda me deve
bebemos um nescafé escroto
passando os dedos na borda
da xícara sem dizer uma palavra
assombrados com o silêncio (mas
isso é erich kästner) tudo tão diferente
das infinitas calorosas conversas
daquelas do tipo que se muda
o que se pensa só um pouquinho
pra aumentar o teor de encanto
eu queria ter feito amor com você
como você diz ter feito com as outras
para mim só sobrou sua dívida
a partilha das neuroses das solidões
suas tristezas todas te escrevo
do ônibus partida ao meio
procuro você na estrada
porque sei que você vai de carona
até varsóvia quem sabe te vejo
anônima e masturbatória enquanto
você procura alguém com vida interna
morna o suficiente que neutralize
o fervor da sua (meu deus
onde estava eu com a cabeça?)
meu único arrependimento
é não ter te fotografado
enquanto tentávamos pegar
uma carona até o mar báltico
você na beira da estrada
sem camisa sob o sol
parecia deus.
Adelaide Ivanova,
em seu blog
Nenhum comentário:
Postar um comentário