segunda-feira, 8 de junho de 2020

CEMITÉRIO ADALGISA

Moram em mim
fundos de mares, estrelas-d'alva,
ilhas, esqueletos de animais,
nuvens que não couberam no céu,
razões mortas, perdões, condenações,
gestos de amparo incompleto,
o desejo do meu sexo
e a vontade de atingir a perfeição.
Adolescências cortadas, velhices demoradas,
os braços de Abel e as pernas de Caim.
Sinto que não morro.
Sou morada pelas coisas como
a terra das sepulturas
é habitada pelos corpos.
Moram em mim
gerações, alegrias em embrião,
vagos pensamentos de perdão.
Como na terra das sepulturas
mora em mim o fruto podre,
que a semente fecunda repetindo a vida
no sereno ritmo da Origem.
Vida e morte,
terra e céu,
podridão, germinação,
destruição e criação.

Adalgisa Nery

Nenhum comentário:

Postar um comentário