O cachorro vai livre pela rua
e vê a realidade
e as coisas que ele vê
são maiores que ele
e as coisas que ele vê
são a realidade dele
Bêbados caindo nas portas
Luas subindo em árvores
O cachorro vai livre pela rua
e as coisas que ele vê
são menos que ele
buracos de formiga
peixe em folha de Jornal
vitrines do Chinatown com galinhas
de cabeças pousadas um quarteirão à frente
O cachorro vai livre pela rua
e as coisas que ele cheira
cheiram um pouco como ele
O cachorro vai livre pela rua
passa por poças e bebês
charutos e gatos
lojas de apostas e policiais
Ele não tem raiva
dos policiais, apenas não lhes dá importâneia
passa por eles
e os bois inteiros pendurados mortos
em frente do Mercado da Carne de San Francisco
Preferia comer uma vitela macia
a ter de engolir um tira duro
mas bem que qualquer um serviria
E ele avança pela Fábrica de Ravioli Romeo
passa pela Torre de Coit
e a estátua de Doyle
Ele tem medo da Torre de Coit
mas não tem medo do Congressista Doyle
embora o que ouve seja desanimador
muito deprimente
e muito absurdo
para um jovem cachorro triste
como ele um cachorro sério
Ele que tem seu mundo livre
onde ficar comendo as próprias
pulgas não será dominado
O Congressista Doyle se resume
para ele a mais
um hidrante na rua
O cachorro vai livre pela rua
tem sua vida de cão para viver
pensar acerca
refletir sobre
tocando testando provando tudo
investigando tudo
sem um lucro por quebra de palavra
um real realista
com um conto real para contar
e um rabo real com o qual fazê-lo
uma vida real
latindo
cachorro democrático
envolvido na real
livre iniciativa
com alguma coisa a dizer
sobre ontologia
alguma coisa a dizer
sobre a realidade
e como ouvir
e ver
cabeça atenta empertigada
a cada esquina
como se fossem fotografá-lo
na mesma hora
para os Discos RCA
ouvindo
A Voz do Dono
e olhando
como um ponto de interrogação vivo
no
grande gramofone
da existência intrigante
com seu prodigioso corno oco
que parece
sempre pronto a cuspir uma resposta
alguma Victoriosa resposta
para tudo
Lawrence Ferlinghetti,
Mensagens Orais, no livro Um parque de diversões da cabeça
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